sábado, 20 de agosto de 2016

A MUSICALIDADE VOCAL

1 - Canto Gregoriano


Por Paula Perin dos Santos






O canto Gregoriano é o canto litúrgico estabelecido pelo papa São Gregório Magno no século VI, adotado pela Igreja Católica como canto oficial, de caráter introspectivo e meditativo, por isso foi tão praticado nas ordens conventuais.


Papa Gregorio I


Como nessa época o Cristianismo passou a dominar os principais centros onde as artes floresciam, com a música não foi diferente. Assim, a música sacra oficial, por assim dizer, era o canto gregoriano e, em segundo lugar, a música não oficial, a profana. Esse tipo de música chamada popular era desprezado pelos adeptos do canto gregoriano, por ser vista como uma música que traziam efeitos negativos para a alma em oposição à música “elevada”, que conduzia o ser humano a algo superior.

Cantado em latim, o canto gregoriano exige uma técnica bastante apurada e um estilo peculiar em sua entoação. Seu objetivo é conduzir à meditação e à humildade, almejando unir o homem ao plano espiritual. Por ser uma música de prestígio social, tinha um lugar todo especial, de honra e privilegiado.

Ele recebeu influências da música judaica, pois os judeus foram os primeiros a se converterem ao cristianismo; do grego, já que até o século III d.C. os cultos eram celebrados nessa língua; do latim falado, que equilibra o acento das palavras durante o discurso.

É cantado a uma só voz, sem acompanhamento de instrumentos, às vezes usa-se um órgão ou um harmônico, para que não haja desafinação; não há compasso definido: o ritmo é livre, como na oratória; é diatônico, ou seja, as notas não sofrem alterações de sustenidos ou bemóis, com exceção do “Si Bemol”.

Monofonia é um termo da teoria musical para designar uma melodia desprovida de qualquer acompanhamento, indiferentemente se trata de canto ou música instrumental. A variante possível para a monofonia é quando a mesma melodia é entoada em oitavas diferentes ou quando é entoada por várias vozes ou instrumentos. Alguns autores admitem na monofonia um acompanhamento de percussão. Exemplo de monofonia é o canto gregoriano.

O canto gregoriano apresenta um grande parentesco com o canto da Antiguidade, mas com um forte contraste espiritual. Ele ainda tem a característica monódica, a ritmização em sílabas longas e curtas aliadas ao acento da palavra e apresenta também fator místico-mágico, que é o da doutrina cristã. A novidade é a métrica: as escalas e os movimentos melódicos não se dão mais por movimentos descendentes, como entre os gregos, mas seguem se desenvolvem primeiro em movimentos ascendentes, seguidos de descendentes. Introduzem também ornamentações e coloraturas, que servem para acentuar palavras importantes do texto religioso e marcar as sílabas finais da interpontuação.









2 - Contraponto musical



Tradicionalmente, nas estruturas musicais distinguem-se: o ritmo, a melodia e a harmonia. O significado e a função de cada um destes elementos é facilmente perceptível para a maioria dos ouvintes, mesmo os menos dotados. No entanto, se este trio funciona bem para alguma música clássica, ele não serve para a chamada polifonia.

Foi sobretudo na Renascença que este género musical se desenvolveu. O seu princípio básico é o de que não deve existir apenas uma voz, mas sim um emaranhado de vozes. Essas vozes devem sobrepõem-se respeitando as leis da harmonia (cada voz sente-se acompanhada pelas restantes) segundo uma aprimorada arte canónica que se designa por contraponto. Tal como um ballet, há vozes que procedem em paralelo, outras que as seguem a curta distância e outras que se vão aproximando ou distanciando simetricamente do centro do palco. Embora a evolução dos gostos musicais não tenha favorecido o contraponto, existem alguns autores, como Bach, em que os detalhes contrapontísticos sobressaem sobre os demais ingredientes musicais.

Com a ajuda da linguagem e dos conceitos matemáticos consegue-se, com total transparência, descrever algumas práticas contrapontistas. Também através da geometria, com a qual se exercita a intuição visual, é possível compreender a música mesmo quando se trata de um ouvido menos dotado. 





  • Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594)



Palestrina é, do Renascimento, um dos mais importantes compositores de música religiosa. Nasceu no ano de 1525, em Palestrina, no norte de Roma, e desde cedo estudou música. Em 1537 era menino de coro da igreja de Santa Maria Maggiore, em Roma, e nessa cidade estudou até 1540. Depois, voltou à sua cidade natal para aí ser mestre do coro da cidade. Mas entretanto, em 1550 Júlio II é eleito papa, e Palestrina é chamado a Roma para ser mestre da Capella Giulia. Um ano depois, publica o seu primeiro livro de Missas, mas em 1555 Júlio II morre e Palestrina é demitido por ser casado. Então, Palestrina sucede a Roland de Lassus como mestre de capela de São João de Latrão., e em 1561 torna a Santa Maria Maggiore. Em 1567 entra ao serviço do cardeal Ipolito d'Este, e torna-se diretor da Capela Sistina em 1571. Após a morte da sua mulher, casou com a filha de um rico comerciante de peles, e enriquece ao entrar no ramo, o que lhe permitiu publicar a sua obra até ao fim da sua vida.

Papa Julio II

Palestrina também compôs diversos madrigais profanos, com o a canção "L´homme armé" (que curiosamente fez parte de uma missa), mas é na música religiosa que Palestrina ocupa maior destaque. Não tendo a inventividade de um Byrd, ou muitos outros compositores da época, Palestrina é porém considerado o exemplo mais polido e perfeito da polifonia renascentista, e o rigor formal das suas obras e a beleza da sua polifonia dão às sua obras um encanto divino, sem no entanto estas intricadas estruturas retirarem a inteligibilidade do texto posto em música, geralmente o ordinário da missa em latim, algo extremamente importante para a eficiência de uma missa cantada, aliás uma das regras definidas pelo Concílio de Trento como regra para a música sacra. 





3 - Os Tipos de Voz





É importante salientar que cada pessoa possui uma extensão de voz própria. Se você gosta de um cantor ou cantora e tenta imitá-los, cuidado! Você está danificando sua voz sem perceber. Procure saber qual é a sua extensão vocal, qual é o seu limite e como é o seu timbre de voz, para se acostumar a ele.

Uma boa voz é aquela que pode ser administrada pelo cantor(a), para que cante o fonema certo, no tom, com clareza, no ritmo e num volume adequado.

No canto erudito é essencial a classificação vocal, pois o estilo exige uma técnica diferenciada. No canto coral esta classificação também é essencial, pois o grupo é dividido por vozes graves, médias e agudas, e esta divisão é feita a partir das categorias de vozes.

O canto popular é mais flexível para esta questão, onde as tonalidades das músicas tocadas se adaptam à realidade extensiva dos cantores.
Os elementos mais importantes para se classificar uma voz são:

-Extensão Vocal: o conjunto de todas as notas que uma pessoa consegue emitir, independente da qualidade.

-Tessitura: é o conjunto de notas que uma pessoa consegue emitir de forma confortável e com boa qualidade.

A estrutura corporal, as características anatômicas, a personalidade, a respiração, as características da emissão vocal são fatores que interferem no seu tipo de voz.

O Timbre é a característica de cada voz, podendo ser grave, médio ou agudo, alguns dizem que o timbre é a cor da sua voz. Cada pessoa possui o seu timbre. É normal que pessoas da mesma família tenham timbres parecidos. São fatores genéticos.

Tessitura é a medida da extensão da voz, assim como para os instrumentos musicais, de acordo com a quantidade de notas que cada um alcança.


As divisões vocais são as seguintes:


VOZ MASCULINA: da voz mais grave para a mais aguda:

1-Baixo: Timbre mais grave da voz masculina. Voz grossa, emitido no peito ou na máscara; Sua extensão vai do DO 1 ao FÁ 3.





2-Barítono: Timbre mediano (voz média). Nem tão grave, nem tão agudo. Também emitido no peito e na máscara. Sua extensão vai do SOL 1 ao LÁ 3.



3-Tenor: Timbre mais agudo da voz masculina. Som emitido entre os registros de cabeça e médio. Sua extensão vai do DÓ 2 ao RÉ 4.






4 - Contratenor - Voz de homem muito aguda, que iguala ou mesmo ultrapassa em extensão a de um contralto (Voz Grave Feminina). Muito apreciada antes de 1800, esta é a voz dos principais personagens da ópera antiga francesa (Lully, Campra, Rameau), de uma parte das óperas italianas, do contralto das cantatas de Bach, etc.






5 - Baixo-barítono - Mais à vontade nos graves e capaz de efeitos dramáticos. Exemplo: Wotan, em Die Walküre [A Valquíria], de Wagner.









VOZ FEMININA: da voz mais grave para a mais aguda:

1-Contralto: Timbre feminino mais grave. Som emitido no peito e na máscara. Sua extensão vai do MI 2 ao LÁ 4



2-Mezzo-soprano (meio soprano): Timbre semi-grave/aguda. Som emitido entre o registro do contralto e do soprano. Sua extensão vai do LÁ 2 ao SI 4



3-Soprano: Timbre feminino mais agudo. Som emitido no registro alta da cabeça. Sua extensão vai do DO 3 ao FÁ 5 



  • Soprano coloratura (palavra italiana), ou soprano ligeiro, o termo coloratura significava, na origem, "virtuosismo" e se aplicava a todas as vozes. Hoje, aplica-se a um tipo de soprano dotado de grande extensão no registro agudo, capazes de efeitos velozes e brilhantes. Exemplo: a personagem das Rainha da Noite, em Die Zauberflöte [A flauta mágica], de Mozart. 




  • Soprano lírico. Voz brilhante e extensa. Exemplo: Marguerite, na ópera Faust [Fausto], de Gounod. 




  • Soprano dramático. É a voz feminina que, além de sua extensão de soprano, pode emitir graves sonoras e sombrias. Exemplo: Isolde, em Tristan und Isolde [Tristão e Isolda], de Wagner.




O APARELHO VOCAL


"A Voz é o eco da alma" (Pitágoras) 


A Voz é um conjunto de sons produzidos pelo funcionamento do aparelho de fonação.

O aparelho vocal se compõe:

1.Aparelho respiratório: Os pulmões (depósitos de ar). Um sistema de fole que fornece o ar necessário à emissão vocal. É formado pela caixa torácica com seus elementos ativos musculares e o diafragma.

2.Órgão vocal vibrante:
Laringe com a glote, as cordas vocais e os ventrículos.

3.Sistema de ressonância :

a)Cavidades supraglóticas: faringe, f0ssas, nasais, seios paranasais, maxilares e frontais;

b)Cavidades subglóticas: traquéia, brônquios, pulmões e caixa torácica.

Contribuem para o ato da fonação os:

4.Articuladores:
Lábios, língua, dentes, palato duro e palato mole, que dão forma aos sons da linguagem.

5.Órgão coordenador: Sistema nervoso central.

As qualidades da voz são:

1.Intensidade:
A intensidade é dada pelo aparelho respiratório, no vigor da expiração.

2.Altura:
Proporcionada pelas vibrações das cordas vocais.

3.Timbre:
Proporcionado pelo sistema de ressonância. É o reforço do som.

Na voz humana o timbre depende das dimensões e da forma das cavidades de ressonância. No desenho abaixo apresentamos os órgãos que contribuem para a fonação.




O Tom da nossa voz deve estar à flor dos lábios.

Cavidades nasais: (respira-se pelo nariz) Quando estamos falando, respiramos pela boca. Nas pausas respiramos pelo nariz, ficando a boca fechada para evitar que a garganta se resseque. Estas observações são de grande importância, sobretudo para as pessoas que discursam, que fazem conferências, que falam em público.

O Cantor necessita aprender como usar a sua voz como um instrumento materializado, pois ele possui os órgãos fonatórios e a fonte de energia necessária, o sopro, para produzir o som. É também verdade que o cantor expressará de modos diferente esse canto interiorizado e sentido, segundo sua concepção da obra a ser interpretada e das infinitas nuances da sua voz. Seu poder expressivo refletirá tanto seu temperamento como sua personalidade.

A voz e a sua personalidade estão estreitamente relacionadas e são inseparáveis já que traduzem o ser humano na sua totalidade.

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