O Brasil tem a maior população de origem africana fora da África e, por isso, a cultura desse continente exerce grande influência, principalmente, na região Nordeste do Brasil.
Origem dos Escravos Africanos
Por Antonio Gasparetto Junior
Inicialmente, os portugueses ocuparam o litoral oeste docontinente africano guiados pela esperança de encontrar ouro. O relacionamento com a população nativa era razoavelmente pacífica, tanto que os europeus chegavam a casar com mulheres africanas. Mas registros apontam que por volta de 1470 o comércio de escravos oriundos da África tinha se tornado o maior produto de exploração vindo do continente.
No século XV Portugal e algumas outras regiões da Europa eram os principais destinos para a mão de obra escrava apreendida no continente africano. Foi a colonização no Novo Mundo que mudou a rota do mercado consumidor de escravos e fez com que o comércio fosse praticado em grande escala.
Os escravos capturados na África eram provenientes de várias situações:
A maior parte dos escravos vindos da África Centro-Ocidental era fornecida por chefes políticos ou mercadores, os portugueses trocavam algum produto pelos negros capturados.
A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos ebantus. Cada um desses grupos representava determinada região do continente e tinha um destino característico no desenrolar do comércio.
Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e fanti-ashantis. Esse grupo tinha origem do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro e seu destino geralmente era a Bahia. Já os bantus, grupo mais numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A origem desse grupo estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique (correspondestes ao centro-sul do continente africano) e rinha como destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. Esse grupo tinha a mesma origem e destino dos sudaneses, a diferença estava no fato de serem convertidos ao islamismo.
Desde os primeiros registros de compras de escravos feitos em terras brasileiras até a extinção do tráfico negreiro, em 1850, calcula-se que tenham entrado no Brasil algo em torno de quatro milhões de escravos africanos. Mas como o comércio no Atlântico não se restringia ao Brasil, a estimativa é que o comércio de escravos por essa via tenha movimentado cerca de 11,5 milhões de indivíduos vendidos como mercadorias.
- poderiam ser prisioneiros de guerra;
- punição para indivíduos condenados por roubo, assassinato, feitiçaria ou adultério;
- indivíduos penhorados como garantia de pagamento de dívidas;
- raptos em pequenas vilas ou mesmo troca de um membro da comunidade por alimentos;
A maior parte dos escravos vindos da África Centro-Ocidental era fornecida por chefes políticos ou mercadores, os portugueses trocavam algum produto pelos negros capturados.
A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos ebantus. Cada um desses grupos representava determinada região do continente e tinha um destino característico no desenrolar do comércio.
Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e fanti-ashantis. Esse grupo tinha origem do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro e seu destino geralmente era a Bahia. Já os bantus, grupo mais numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A origem desse grupo estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique (correspondestes ao centro-sul do continente africano) e rinha como destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. Esse grupo tinha a mesma origem e destino dos sudaneses, a diferença estava no fato de serem convertidos ao islamismo.
Desde os primeiros registros de compras de escravos feitos em terras brasileiras até a extinção do tráfico negreiro, em 1850, calcula-se que tenham entrado no Brasil algo em torno de quatro milhões de escravos africanos. Mas como o comércio no Atlântico não se restringia ao Brasil, a estimativa é que o comércio de escravos por essa via tenha movimentado cerca de 11,5 milhões de indivíduos vendidos como mercadorias.
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Hoje, a cultura afro-brasileira é resultado também das influências dos portugueses e indígenas, que se manifestam na música, religião e culinária.
Fotos raras de escravos africanos no Brasil:
http://www.historiailustrada.com.br/2014/04/raras-fotografias-escravos-brasileiros.html
No início do século XIX, as manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos, pois não faziam parte do universo cultural europeu e não representavam sua prosperidade. Eram vistas como retrato de uma cultura atrasada.
Mas, a partir do século XX, começaram a ser aceitos e celebrados como expressões artísticas genuinamente nacionais e hoje fazem parte do calendário nacional com muitas influências no dia a dia de todos os brasileiros.
Em 2003, a lei nº 10.639 passou a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluíssem no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira.
Arte e religião
As civilizações africanas tem uma visão holística e simbólica da vida. Cada indivíduo é parte de um todo, ligados, todos em função do cosmos em uma eterna busca pela harmonia e de equilíbrio. Outro conceito fundamental na filosofia da existência africana é a importância do grupo, para que a comunidade viva, cada fiel deve participar seguindo o papel que lhe pertence em nível espiritual e terreno.
As únicas religiões que tem relação com a arte africana no Brasil, são o Candomblé, e o Culto aos Egungun efetivamente de origem africana.
O Culto de Ifá em menor número no Brasil é o maior responsável pela divulgação da Yoruba Art em todo mundo, Estados Unidos, Cuba, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, são os países onde o maior número de peças podem ser encontradas, em museus e coleções particulares.
TEXTO: Priscila Gorzoni | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
Máscara tem origem no latim mascus ou masca = “fantasma”, ou no árabe maskharah = “palhaço”, “homem disfarçado”.
Principais funções de uma máscara são: disfarce, símbolo de identificação, esconder revelando, transfiguração, representação de espíritos da natureza, deuses, antepassados, seres sobrenaturais ou rosto de animais, participação em rituais (muitas vezes presente, porém sem utilização prática), interação com dança ou movimento, fundamental nas religiões animistas e mero adereço.
Uma das sociedades que mais se expressam simbolicamente através de suas expressões artísticas e tornou-se conhecida através de suas máscaras são as etnias africanas. Dentro da África encontram-se várias sociedades, onde cada uma possui traços específicos e particulares respeitando seu contexto cultural.
Dentro da arte africana, as esculturas são as expressões de maior destaque e mais conhecidas universalmente. Diferente da concepção artística ocidental, a arte africana possui um teor e um sentido mágico religioso.
Para os africanos, as esculturas são objetos rituais, comunicação com os deuses e uma maneira de se mostrar e distinguir-se das demais comunidades.
O continente africano é enorme e habitado por várias etnias, por isso apresenta diferenças culturais, estéticas e religiosas de uma região para outra. Conseqüentemente, a máscara africana não tem traços homogêneos, cada comunidade possui seu próprio estilo artístico.
A maioria das máscaras é feita em madeira, afinal para os africanos a árvore é guardiã de poderes mágicos. O artista parte de um tronco cílindrico e vai afinando com o auxilio de suas ferramentas. A madeira escolhida deve ser verde e para que não rache, ele a carboniza jogando óleos de palmeira.
Além da madeira, outros materiais podem ser usados nas esculturas, como pedra, marfim, ouro, cobre e bronze.
Não é qualquer um que pode esculpir máscaras em uma sociedade africana. O artista não é um ser individual, pois através de suas mãos a coletividade fala. Cabe a ele o papel de interpretar os valores de todos e concretizar em sua obra.
Na maioria dos casos, o escultor pertence a uma família ou casta de artistas. Inclusive será ali que ele irá aprender o uso e os instrumentos para a atividade artística. No entanto, pode acontecer de algum jovem da aldeia se interessar pela arte, mesmo sem ser da família de artistas. Neste caso, ele começará como aprendiz, copiando os modelos do mestre para depois criar os seus próprios, sempre obedecendo ao estilo vigente.Totalmente oposto a nossa a visão ocidental do artista, o escultor africano embora tenha uma posição de respeito e poder, deve ficar incógnito e passar por um processo de abstinência e purificação antes de iniciar a escultura. Pois confeccionar uma máscara é um ato sagrado, e quem o faz deve estar livre de todas as impurezas. Não importa quem é o artista, mas a mensagem social de que é portador.
A posição do escultor dentro de cada comunidade poderá variar, em algumas ele é visto antes do agricultor, em outras é inferior. Em alguns reinados, o artista torna-se um instrumento de ostentação do rei. Neste caso ele irá fazer obras onerosas para mostrar como aquele
rei é rico.
As várias estéticas da arte africana
Cada região da África tem seu estilo artístico e materiais diferenciados. Isso varia pelas diversas influências e Culturas que o continente sofreu durante a sua história. As mais antigas esculturas africanas foram encontradas no Norte da Nigéria, em uma mina nos arredores de Jos, a Cultura Nok (cabeças humanas de dois metros de altura em formato cilíndrico, com enfeites nas orelhas, lábios e pupilas feitas em terracota).
Apreciar uma escultura africana de qualquer uma destas sociedades é ler a história, ouvir a voz de uma coletividade ou antepassado da população. A própria peça fala por si, é um objeto de testemunho.
Dança Africana
No início do século XIX, as manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos, pois não faziam parte do universo cultural europeu e não representavam sua prosperidade. Eram vistas como retrato de uma cultura atrasada.
Bate-Folha da Bahia (origem 1881) |
Candomblé |
Em 2003, a lei nº 10.639 passou a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluíssem no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira.
Arte e religião
As civilizações africanas tem uma visão holística e simbólica da vida. Cada indivíduo é parte de um todo, ligados, todos em função do cosmos em uma eterna busca pela harmonia e de equilíbrio. Outro conceito fundamental na filosofia da existência africana é a importância do grupo, para que a comunidade viva, cada fiel deve participar seguindo o papel que lhe pertence em nível espiritual e terreno.
- Principais religiões
As únicas religiões que tem relação com a arte africana no Brasil, são o Candomblé, e o Culto aos Egungun efetivamente de origem africana.
Egungun |
Culto de Ifá |
O Culto de Ifá em menor número no Brasil é o maior responsável pela divulgação da Yoruba Art em todo mundo, Estados Unidos, Cuba, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, são os países onde o maior número de peças podem ser encontradas, em museus e coleções particulares.
Ifá é o nome de um Oráculo africano. É um sistema de adivinhação que se originou na África Ocidental entre os Yorubas, na Nigéria. É também designado por Fa entre os Fon e Afa entre os Ewe. Não é propriamente uma divindade (Orixá), é o porta-voz de Orunmilá e dos outros Orixás.
O sistema pertence as religiões tradicionais africanas mas também é praticado entre os adeptos da Lukumí de Cuba através da Regla de Ocha, Candomblé no Brasil através do Culto de Ifá, e similares transplantadas para o Novo Mundo.
Os iorubás configuram uma das mais significativas culturas da história do continente africano; eles estão localizados na região sudoeste da Nigéria e no sul do Benin, onde se concentra uma minoria. Afirmam os historiadores que os domínios iorubás se desenvolveram ao longo da margem sul do rio Níger.
Este povo encontra sua procedência primitiva em um núcleo aborígene ancestral, posicionado em torno da cidade de Ifé, antes de ser subjugado pelo guerreiro Oduduwa, considerado o criador desta civilização, e por seus seguidores. Seus descendentes estruturaram as distintas dinastias que se fixaram neste espaço geográfico entre os anos 600 e 900; supõe-se que eles eram originários do Alto Nilo.
Vários estudiosos crêem que o povo iorubá tem prováveis laços com a cultura do Egito, enquanto outros defendem que ele está mais intimamente ligado ao legado da Núbia; estes pesquisadores também investigam a possibilidade das crenças iorubás serem herdeiras das concepções helenistas. Até hoje nenhuma especulação foi comprovada.
Os povos africanos se apóiam integralmente no poder da oralidade, a qual, no caso das tradições iorubás, se mantém ao longo dos séculos no interior dos Poemas Sagrados de Ifá, de onde este povo extrai a base fundamental para preservar seu legado, mesmo distante do lar, nas Américas, especialmente no Brasil e em Cuba.
A palavra oral tem um peso sagrado, pois traz em si o mistério do culto àquilo que se encontra em uma dimensão invisível ao olhar humano. Mais que isso, ela é o tecido estrutural que molda cada esfera da vivência dos povos africanos, particularmente a dos iorubás. É ela que permite a uma geração transmitir sua herança ancestral à que lhe sucede, preservando assim sua cultura original.
O caráter consagrado da palavra lhe confere o dom de criar cenários, pois ela abriga um universo mítico. Seus mestres têm a responsabilidade de estabelecer vínculos de conexão entre as entidades divinas, os ancestrais e os futuros iorubás, disponibilizando o legado cultural desta civilização.
Os Versos Sagrados de Ifá constituem o meio essencial para se entender o Cosmos, a cultura, a religiosidade, a educação, a poética, a dança, o legado musical, a estrutura político-social, as interações sociais, a configuração do perímetro urbano, o meio-ambiente, a relação com os ancestrais e a ciência praticada pelos iorubás.
Dentre os elementos presentes nesta obra-prima da oralidade iorubá estão os Oriki – evocações; os Orin – cantos; os Orin-Esa – cantigas em louvor aos ancestrais masculinas; os Orin-Efe – canções dirigidas às ancestrais femininas; as Aduras – orações; os Ibás – saudações. Nos poemas maiores, os Iremoje e os Ijala, estão preservados os elementos mais significativos da trajetória mitológica deste povo.
O cosmo iorubá é arquitetado em uma estrutura quádrupla, daí os sacerdotes serem também enquadrados em categorias que correspondem a esta visão de mundo. Os babalaôs dirigem o culto a Ifá, na dimensão da interação humana; os babalorixás e ialorixás – pais e mães que presidem as iniciações no orixá – lideram a adoração a estas divindades; os babalossaim – símbolos da paternidade – são os responsáveis pelo culto a Ossaim, a esfera das folhas, representantes da Natureza; e os babalojés/ babaojés – que protagonizam os pais na veneração aos ancestrais da linhagem masculina – comandam a adoração aos mortos.
Nas terras americanas os iorubás procuram reproduzir esta representação espacial geográfica e cosmológica. Cada esfera do recinto sagrado na América reflete a mesma teia sagrada que marca o universo iorubá no continente africano. O Ifá atua como o protetor do saber sagrado, um depósito palpitante das memórias desta civilização.
Os orixás estão presentes no cotidiano dos fiéis, no trabalho e nos fatos mais corriqueiros da vida. Simbolicamente, a morada e regência de cada orixá é um elemento e uma qualidade, um valor, e cada expressão da natureza é compreendida como um sinal mágico. Para os iorubás a natureza oferece os indicadores abençoados pelos orixás. Cada orixá tem sua cor, égide, pedra, dia da semana, dança, canto, saudação, animal consagrado, comida, objetos de oferenda, filiação, função e lugar de poder.
http://mitologiacomentada.blogspot.com.br/p/ioruba.html
O sistema pertence as religiões tradicionais africanas mas também é praticado entre os adeptos da Lukumí de Cuba através da Regla de Ocha, Candomblé no Brasil através do Culto de Ifá, e similares transplantadas para o Novo Mundo.
Os iorubás configuram uma das mais significativas culturas da história do continente africano; eles estão localizados na região sudoeste da Nigéria e no sul do Benin, onde se concentra uma minoria. Afirmam os historiadores que os domínios iorubás se desenvolveram ao longo da margem sul do rio Níger.
Este povo encontra sua procedência primitiva em um núcleo aborígene ancestral, posicionado em torno da cidade de Ifé, antes de ser subjugado pelo guerreiro Oduduwa, considerado o criador desta civilização, e por seus seguidores. Seus descendentes estruturaram as distintas dinastias que se fixaram neste espaço geográfico entre os anos 600 e 900; supõe-se que eles eram originários do Alto Nilo.
Vários estudiosos crêem que o povo iorubá tem prováveis laços com a cultura do Egito, enquanto outros defendem que ele está mais intimamente ligado ao legado da Núbia; estes pesquisadores também investigam a possibilidade das crenças iorubás serem herdeiras das concepções helenistas. Até hoje nenhuma especulação foi comprovada.
Os povos africanos se apóiam integralmente no poder da oralidade, a qual, no caso das tradições iorubás, se mantém ao longo dos séculos no interior dos Poemas Sagrados de Ifá, de onde este povo extrai a base fundamental para preservar seu legado, mesmo distante do lar, nas Américas, especialmente no Brasil e em Cuba.
A palavra oral tem um peso sagrado, pois traz em si o mistério do culto àquilo que se encontra em uma dimensão invisível ao olhar humano. Mais que isso, ela é o tecido estrutural que molda cada esfera da vivência dos povos africanos, particularmente a dos iorubás. É ela que permite a uma geração transmitir sua herança ancestral à que lhe sucede, preservando assim sua cultura original.
O caráter consagrado da palavra lhe confere o dom de criar cenários, pois ela abriga um universo mítico. Seus mestres têm a responsabilidade de estabelecer vínculos de conexão entre as entidades divinas, os ancestrais e os futuros iorubás, disponibilizando o legado cultural desta civilização.
Os Versos Sagrados de Ifá constituem o meio essencial para se entender o Cosmos, a cultura, a religiosidade, a educação, a poética, a dança, o legado musical, a estrutura político-social, as interações sociais, a configuração do perímetro urbano, o meio-ambiente, a relação com os ancestrais e a ciência praticada pelos iorubás.
Dentre os elementos presentes nesta obra-prima da oralidade iorubá estão os Oriki – evocações; os Orin – cantos; os Orin-Esa – cantigas em louvor aos ancestrais masculinas; os Orin-Efe – canções dirigidas às ancestrais femininas; as Aduras – orações; os Ibás – saudações. Nos poemas maiores, os Iremoje e os Ijala, estão preservados os elementos mais significativos da trajetória mitológica deste povo.
O cosmo iorubá é arquitetado em uma estrutura quádrupla, daí os sacerdotes serem também enquadrados em categorias que correspondem a esta visão de mundo. Os babalaôs dirigem o culto a Ifá, na dimensão da interação humana; os babalorixás e ialorixás – pais e mães que presidem as iniciações no orixá – lideram a adoração a estas divindades; os babalossaim – símbolos da paternidade – são os responsáveis pelo culto a Ossaim, a esfera das folhas, representantes da Natureza; e os babalojés/ babaojés – que protagonizam os pais na veneração aos ancestrais da linhagem masculina – comandam a adoração aos mortos.
Nas terras americanas os iorubás procuram reproduzir esta representação espacial geográfica e cosmológica. Cada esfera do recinto sagrado na América reflete a mesma teia sagrada que marca o universo iorubá no continente africano. O Ifá atua como o protetor do saber sagrado, um depósito palpitante das memórias desta civilização.
Os orixás estão presentes no cotidiano dos fiéis, no trabalho e nos fatos mais corriqueiros da vida. Simbolicamente, a morada e regência de cada orixá é um elemento e uma qualidade, um valor, e cada expressão da natureza é compreendida como um sinal mágico. Para os iorubás a natureza oferece os indicadores abençoados pelos orixás. Cada orixá tem sua cor, égide, pedra, dia da semana, dança, canto, saudação, animal consagrado, comida, objetos de oferenda, filiação, função e lugar de poder.
http://mitologiacomentada.blogspot.com.br/p/ioruba.html
Conheça a história e saiba os significados das máscaras africanas
TEXTO: Priscila Gorzoni | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
Máscara tem origem no latim mascus ou masca = “fantasma”, ou no árabe maskharah = “palhaço”, “homem disfarçado”.
Principais funções de uma máscara são: disfarce, símbolo de identificação, esconder revelando, transfiguração, representação de espíritos da natureza, deuses, antepassados, seres sobrenaturais ou rosto de animais, participação em rituais (muitas vezes presente, porém sem utilização prática), interação com dança ou movimento, fundamental nas religiões animistas e mero adereço.
Uma das sociedades que mais se expressam simbolicamente através de suas expressões artísticas e tornou-se conhecida através de suas máscaras são as etnias africanas. Dentro da África encontram-se várias sociedades, onde cada uma possui traços específicos e particulares respeitando seu contexto cultural.
Dentro da arte africana, as esculturas são as expressões de maior destaque e mais conhecidas universalmente. Diferente da concepção artística ocidental, a arte africana possui um teor e um sentido mágico religioso.
Para os africanos, as esculturas são objetos rituais, comunicação com os deuses e uma maneira de se mostrar e distinguir-se das demais comunidades.
O continente africano é enorme e habitado por várias etnias, por isso apresenta diferenças culturais, estéticas e religiosas de uma região para outra. Conseqüentemente, a máscara africana não tem traços homogêneos, cada comunidade possui seu próprio estilo artístico.
Variedade de objetos do cotidiano na arte africana |
A maioria das máscaras é feita em madeira, afinal para os africanos a árvore é guardiã de poderes mágicos. O artista parte de um tronco cílindrico e vai afinando com o auxilio de suas ferramentas. A madeira escolhida deve ser verde e para que não rache, ele a carboniza jogando óleos de palmeira.
Além da madeira, outros materiais podem ser usados nas esculturas, como pedra, marfim, ouro, cobre e bronze.
Não é qualquer um que pode esculpir máscaras em uma sociedade africana. O artista não é um ser individual, pois através de suas mãos a coletividade fala. Cabe a ele o papel de interpretar os valores de todos e concretizar em sua obra.
Reprodução de máscara africana | FOTO: Divulgação
Na maioria dos casos, o escultor pertence a uma família ou casta de artistas. Inclusive será ali que ele irá aprender o uso e os instrumentos para a atividade artística. No entanto, pode acontecer de algum jovem da aldeia se interessar pela arte, mesmo sem ser da família de artistas. Neste caso, ele começará como aprendiz, copiando os modelos do mestre para depois criar os seus próprios, sempre obedecendo ao estilo vigente.Totalmente oposto a nossa a visão ocidental do artista, o escultor africano embora tenha uma posição de respeito e poder, deve ficar incógnito e passar por um processo de abstinência e purificação antes de iniciar a escultura. Pois confeccionar uma máscara é um ato sagrado, e quem o faz deve estar livre de todas as impurezas. Não importa quem é o artista, mas a mensagem social de que é portador.
A posição do escultor dentro de cada comunidade poderá variar, em algumas ele é visto antes do agricultor, em outras é inferior. Em alguns reinados, o artista torna-se um instrumento de ostentação do rei. Neste caso ele irá fazer obras onerosas para mostrar como aquele
rei é rico.
As várias estéticas da arte africana
Cada região da África tem seu estilo artístico e materiais diferenciados. Isso varia pelas diversas influências e Culturas que o continente sofreu durante a sua história. As mais antigas esculturas africanas foram encontradas no Norte da Nigéria, em uma mina nos arredores de Jos, a Cultura Nok (cabeças humanas de dois metros de altura em formato cilíndrico, com enfeites nas orelhas, lábios e pupilas feitas em terracota).
Apreciar uma escultura africana de qualquer uma destas sociedades é ler a história, ouvir a voz de uma coletividade ou antepassado da população. A própria peça fala por si, é um objeto de testemunho.
Máscara Mfondo, séc, XIX Cultura Lwalu, Angola. República Democrática do Congo Máscara Mwana Pwo, séc. XIX-XX Cultura Chokwe, Angola e República Democrática do Congo |
Dança Africana
Na dança africana, cada parte do corpo movimenta-se com um ritmo diferente. Os pés seguem a base musical, acompanhados pelos braços que equilibram o balanço dos pés. O corpo pode ser comparado a uma orquestra que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia.
Outra característica fundamental é o policentrismo que indica a existência no corpo e na música de vários centros energéticos, assim como acontece no cosmo. A dança africana é um texto formado por várias camadas de sentidos. Esta dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimir através e para todos os sentidos. No momento que a sacerdotisa dança para Oxum, ela está criando a água doce não só através do movimento, mas através de todo o aparelho sensorial. A memória é o aspeto antológico da estética africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e do antigo equilíbrio da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação entre o mundo dos seres humanos e os dos deuses.
Lundu |
Batuque |
Ijexá |
Capoeira |
Coco |
Congada |
Jongo |
Influências africanas na cultura mundial
Picasso e a África
O Cubismo foi um dos principais, se não um dos mais comentados, estilos do Modernismo, das chamadas Vanguardas. Mas o que a “Arte Africana” tem a ver com isso?
Pablo Picasso (1881-1973), um dos precursores do Cubismo começou a desenvolver o estilo a partir de visitas a uma exposição de Arte Africana, no Museu do Homem de Paris, em 1905.
O trabalho exposto causou uma forte impressão no artista, especialmente as máscaras, o que fez com que ele procurasse retratá-las em suas pinturas. As máscaras, carregadas de significados sagrados, mas também pela simplificação das formas, tornaram-se referência para alguns artistas do Modernismo, em especial para Picasso, que, influenciado por elas, inaugurou uma nova fase da sua obra, o que alguns estudiosos denominam como protocubismo, um antecedente do cubismo, como podemos perceber nas imagens a seguir.
Abaixo, uma máscara da cultura Fang, observamos a ideia de simplificação das formas, ou seja, quais elementos são necessários para a confecção de um rosto. Essa ideia foi muito importante no cubismo. Logo a seguir, na tela Les Demoiselle d'Avignon, de Picasso, percebemos, nas duas figuras da direita a semelhança com as máscaras. Também, é possível notar que nas cores do quadro há a predominância de tons terrosos, outra forte referência às cores das máscaras africanas.
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