Por que ensinar arte?
Autor(a): Evelyn Ioschpe - publicado na revista DasArtes Nº 9 ABR.MAI 2010
Dá para imaginar uma vida desvestida de arte? Uma vida sem música, sem cinema, sem um bom quadro para apreciar Por que recebemos como a mais remota herança de nossa presença na Terra as inscrições nas cavernas de Lascaux? São os primeiros registros – e as primeiras manifestações artísticas.
Para Bertold Brecht: “Da mesma forma como é verdade que em todo homem existe um artista, que o homem é o mais artista entre todos os animais, também é certo que esta inclinação pode ser desenvolvida ou perecer. Subjaz à arte um saber que é saber conquistado através do trabalho”.
Este trabalho que constrói os saberes da arte formalizados é o que se convencionou chamar de arte-educação.Ele ocorre na escola de maneira formal e seriada, ou não formal nos museus e centros culturais. O certo é que a percepção e a decodificação das linguagens artísticas – sobretudo as contemporâneas – requerem um aprendizado contínuo e sistemático.
Embora haja divergências sobre as metodologias utilizadas para o ensino da Arte, no Brasil, um passo importante na busca de um piso comum foi quando o MEC criou e divulgou, em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para todas as disciplinas escolares. Mais recentemente este esforço vem sendo apropriado por estados e municípios que desenvolvem seus próprios Referenciais Curriculares. .
Se houve época no Brasil em que a Arte não encontrava espaço no currículo escolar, hoje é disciplina obrigatória a partir da 5ª série do Ensino Fundamental, deve ser ministrada por professor com formação universitária específica, informado pelos PCNs que se apoiam em três vértices: a leitura da obra de arte, sua contextualização no tempo e no espaço e o fazer arte.
Entende-se contemporaneamente que é impossível ensinar arte sem arte, sem a apreciação da boa arte – mesmo sabendo o quão elástico o conceito da “boa arte” pode ser. O que já não se aceita é que a “arte adulta” possa conspurcar a ingenuidade e a criatividade da criança que deveria ser levada a criar livremente. Esta orientação, vigente a partir dos anos 60 no Brasil e que teve um impulso com a criação das Escolinhas de Arte em muitas capitais a partir do modelo de Augusto Rodrigues no Rio, levou a um movimento cuja denominação genérica era “laissez-faire”, enfatizando o espontaneísmo que se deveria deixar aflorar na criança, este “bom selvagem”.
O advento do Discipline Based Art Education nos Estados Unidos (amplamente difundido pelo Getty Institute) deu origem à Abordagem Triangular no Brasil, formulada pela profa. Ana Mae Barbosa e divulgada por ela e pelo Arte na Escola da Fundação Iochpe. É nesta triangulação que se abre espaço para além do fazer artístico, para a leitura ou apreciação da obra de arte e, igualmente, para a sua contextualização. Não é possível estudar uma obra renascentista como se ela tivesse sido criada num contexto contemporâneo, e vice-versa. É preciso entender que os fenômenos artísticos são condicionados pelo momento e pelo lugar em que surgem.
Ninguém se questiona sobre a importância do estudo de Português, Matemática e Ciências – mas Arte? Num mundo onde os testes estandartizados de aprendizado são cada vez mais importantes, há espaço para as artes, tão pouco propícias a este tipo de aferição?
Várias pesquisas realizadas, sobretudo nos Estados Unidos, apontam na mesma direção: se o objetivo é entender as artes no conjunto das disciplinas, os ganhos são imensos. A pesquisa conduzida por Randi Korn & Associates para o Guggenheim Museum, por exemplo, indica que a educação artística melhora o desempenho dos estudantes em outras áreas do conhecimento. O estudo cita melhoria na alfabetização e nas habilidades do pensamento crítico como descrição acurada, levantamento de hipóteses e raciocínio.
Realizada em Chicago, a pesquisa “Arts Education Partnership – Critical Links” mostra que o ensino de qualidade nas artes estimula e dá lastro ao aprendizado de outras matérias, especialmente para alunos em situação de vulnerabilidade social. Revela ainda que onde a Arte foi integrada a outras disciplinas, os níveis de leitura foram acelerados em no mínimo um semestre. Levando em conta que há outros fatores intervenientes (como família e meio-ambiente) os Profs. James Caterrall e Richard J. Deasy concluem que a arte-educação é no mínimo um fator que contribui fortemente para o resultado acadêmico.
“A essência da inovação está em que o caminho para chegar-se a ela não é conhecido de antemão: por conseguinte é impossível predizê-lo de modo lógico”, afirma W. Beveridge.
A arte caminha por este meio-fio do que não é lógico nem predizível. Traz em si própria a capacidade de CRIAR, cuja definição segundo Domenico de Masi é iluminar o que antes estava escuro, de dar forma àquilo que era caótico, criar o que nunca havia sido gerado, antecipar o futuro, produzir o porvir.
O que não é pouco.
Para Bertold Brecht: “Da mesma forma como é verdade que em todo homem existe um artista, que o homem é o mais artista entre todos os animais, também é certo que esta inclinação pode ser desenvolvida ou perecer. Subjaz à arte um saber que é saber conquistado através do trabalho”.
Este trabalho que constrói os saberes da arte formalizados é o que se convencionou chamar de arte-educação.Ele ocorre na escola de maneira formal e seriada, ou não formal nos museus e centros culturais. O certo é que a percepção e a decodificação das linguagens artísticas – sobretudo as contemporâneas – requerem um aprendizado contínuo e sistemático.
Embora haja divergências sobre as metodologias utilizadas para o ensino da Arte, no Brasil, um passo importante na busca de um piso comum foi quando o MEC criou e divulgou, em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para todas as disciplinas escolares. Mais recentemente este esforço vem sendo apropriado por estados e municípios que desenvolvem seus próprios Referenciais Curriculares. .
Se houve época no Brasil em que a Arte não encontrava espaço no currículo escolar, hoje é disciplina obrigatória a partir da 5ª série do Ensino Fundamental, deve ser ministrada por professor com formação universitária específica, informado pelos PCNs que se apoiam em três vértices: a leitura da obra de arte, sua contextualização no tempo e no espaço e o fazer arte.
Entende-se contemporaneamente que é impossível ensinar arte sem arte, sem a apreciação da boa arte – mesmo sabendo o quão elástico o conceito da “boa arte” pode ser. O que já não se aceita é que a “arte adulta” possa conspurcar a ingenuidade e a criatividade da criança que deveria ser levada a criar livremente. Esta orientação, vigente a partir dos anos 60 no Brasil e que teve um impulso com a criação das Escolinhas de Arte em muitas capitais a partir do modelo de Augusto Rodrigues no Rio, levou a um movimento cuja denominação genérica era “laissez-faire”, enfatizando o espontaneísmo que se deveria deixar aflorar na criança, este “bom selvagem”.
O advento do Discipline Based Art Education nos Estados Unidos (amplamente difundido pelo Getty Institute) deu origem à Abordagem Triangular no Brasil, formulada pela profa. Ana Mae Barbosa e divulgada por ela e pelo Arte na Escola da Fundação Iochpe. É nesta triangulação que se abre espaço para além do fazer artístico, para a leitura ou apreciação da obra de arte e, igualmente, para a sua contextualização. Não é possível estudar uma obra renascentista como se ela tivesse sido criada num contexto contemporâneo, e vice-versa. É preciso entender que os fenômenos artísticos são condicionados pelo momento e pelo lugar em que surgem.
Ninguém se questiona sobre a importância do estudo de Português, Matemática e Ciências – mas Arte? Num mundo onde os testes estandartizados de aprendizado são cada vez mais importantes, há espaço para as artes, tão pouco propícias a este tipo de aferição?
Várias pesquisas realizadas, sobretudo nos Estados Unidos, apontam na mesma direção: se o objetivo é entender as artes no conjunto das disciplinas, os ganhos são imensos. A pesquisa conduzida por Randi Korn & Associates para o Guggenheim Museum, por exemplo, indica que a educação artística melhora o desempenho dos estudantes em outras áreas do conhecimento. O estudo cita melhoria na alfabetização e nas habilidades do pensamento crítico como descrição acurada, levantamento de hipóteses e raciocínio.
Realizada em Chicago, a pesquisa “Arts Education Partnership – Critical Links” mostra que o ensino de qualidade nas artes estimula e dá lastro ao aprendizado de outras matérias, especialmente para alunos em situação de vulnerabilidade social. Revela ainda que onde a Arte foi integrada a outras disciplinas, os níveis de leitura foram acelerados em no mínimo um semestre. Levando em conta que há outros fatores intervenientes (como família e meio-ambiente) os Profs. James Caterrall e Richard J. Deasy concluem que a arte-educação é no mínimo um fator que contribui fortemente para o resultado acadêmico.
“A essência da inovação está em que o caminho para chegar-se a ela não é conhecido de antemão: por conseguinte é impossível predizê-lo de modo lógico”, afirma W. Beveridge.
A arte caminha por este meio-fio do que não é lógico nem predizível. Traz em si própria a capacidade de CRIAR, cuja definição segundo Domenico de Masi é iluminar o que antes estava escuro, de dar forma àquilo que era caótico, criar o que nunca havia sido gerado, antecipar o futuro, produzir o porvir.
O que não é pouco.
Show!!!
ResponderExcluirObrigada!
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