quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

PROCESSOS DE CRIAÇÃO EM ARTE


O QUE É PROCESSO DE CRIAÇÃO EM ARTE? (Layo Bulhão)

O processo de criação do artista é a parte mais valiosa da obra. Lógico que o produto final é importante, mas é durante o inicio e o término da obra que estão suas inquietações, erros e acertos, dúvidas e certezas, vontade de mudar tudo e o mais importante os seus questionamentos.

Todo artista se pergunta no seu processo de criação, ou pelo menos deveria se perguntar: O eu quero dizer com essa obra?

A obra final de um artista não é o ápice de sua criação, mas descobrir já durante o processo que impactos irão causar no seu público.

O artista vive a obra somente enquanto ela esta sendo produzida, pois quando é finalizada quem passa a vivenciá-la é o fruidor, o contemplador de sua obra.

Os processos de criação na atualidade estão sendo cada vez mais valorizados, pois é o instante do autor com sua obra. A construção da obra é um lugar que tem vários caminhos e isso é prazeroso tanto para quem faz como para quem vê.

Mas no campo de investigação dos processos de criação, existem muitos equívocos. Primeiro, o processo de criação é, antes de tudo, busca por um produto final que ainda não se sabe claramente o que é, mas que se tem uma noção de onde se quer chegar. Segundo, mostra de processos não são explicativos do que é processo. Terceiro não se deve ignorar o público assistindo. Os processos criativos são fragmentos que gosto ou mostram onde “até aqui cheguei, mas ainda não é isso que quero” .

Talvez a palavra mais próxima que defina o que vem a ser processo criativo é possibilidades.



Exemplos de processos de criação em diferentes linguagens

Texto


(...) Cada artista tem seu tempo de criação. É difícil saber quando começa a gravidez e quando se dá o parto. Há pintores que são permanentemente prenhes, parindo ninhadas como era o caso de Picasso. Eu, antes de iniciar a viagem – o quadro -, consulto minha bússola interior e traço o rumo. Mas, quando estou no mar grosso, sempre sopra um vento forte que me desvia da rota preestabelecida e me leva a descobrir o novo quadro. Todo criador é um Pedro Álvares Cabral. (...)

(In: Camargo, Iberê, Gaveta dos Guardados, São Paulo: EDUSP, 1998. p.31-36.)

Artes Visuais

  • Marulho (1997-2006) - Cildo Meireles 
(...) fotografias de mar em centenas de livros abertos que cobrem o chão, sob um deck de madeira (um píer) na instalação de Cildo Meireles, que se complementa com reprodução em áudio da palavra água enunciada por crianças e adultos em 80 línguas diferentes.






Exposição de Cildo Meireles na Pinacoteca do Estado

Teatro

  • Cia. Caixa de Fuxico - A Batalha dos Encantados (2007) 
"O espetáculo foi criado a partir da pesquisa sobre os orixás, da pesquisa com objetos, das imagens que  esses orixás trazem em suas narrativas e da música sempre pesquisada ao vivo por músicos experientes. Por exemplo, Euá é uma orixá que se transforma em rio, então pesquisamos suas características: é a bruma, a névoa, a transformação da água, a poesia entre outras imagens. A criação da cena surgiu através do repertório comum que tínhamos eu [Andrea Cavinato] e a musicista [Márcia Fernandes], dos nossos tempos de vivência no Teatro Ventoforte: dar forma às imagens com panos, com cor, com movimento e com música. Essa cena da foto é, especificamente, quando Euá 'nasce' como orixá, ou seja, deixa de ser humana e passa a ser uma força da natureza, uma fonte que jorra e se transforma em rio."









A Batalha dos Encantados parte 01 Caixa de Fuxico




A Batalha dos Encantados parte 4 Grupo Caixa de Fuxico



Dança


  • Terpsí Teatro de Dança - E la nave no va II
A imagem da coreografia do Terpsí Teatro de Dança mostra como objeto cênico um tacho de lavar roupa.






  • Balé da Cidade de São Paulo - Baile na Roça: coreografia para Portinari (1998)


Baile na roça é o título que Cândido Portinari deu à primeira tela em que retratou o Brasil, pintando uma típica festa popular de sua cidade natal no interior de São Paulo, Brodósqui. A obra foi rejeitada pelo Salão Oficial da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, pelas inovações técnicas incorporadas pelo pintor. Baile na roça é também o nome do espetáculo que o Balé da Cidade de São Paulo remonta neste ano para comemorar os cem anos desse pintor brasileiro que sempre buscou as raízes de seu país.Mas as relações entre Portinari e a dança estão longe de se esgotar neste nome. Além de pintar variadas telas sobre bailes e festas de sua terra, ele ainda estendeu sua arte para os figurinos e os cenários do balé Iara, apresentado no Brasil em 1946 pelo Original Ballet Russe.
Aliás, foi a partir do convite de remontar Iara, história da rainha das águas e sua luta contra o Sol da seca nordestina, que Baile na roça – Coreografias para Portinari começou a andar com seus próprios pés. O Projeto Portinari, coordenado pelo filho do pintor, conseguiu resgatar os cenários e os figurinos da peça, mas a coreografia permaneceu desconhecida. Diante da falta de registros sobre Iara, o diretor José Possi Neto (ECA/USP) montou um novo espetáculo, inspirado em diferentes telas do pintor e dançado pela primeira vez em 1998, quando Possi era diretor do Balé da Cidade.
A versão atual mantém a divisão anterior em cinco balés, sendo que um deles subdivide-se ainda em três partes. “Cada um dos balés foi coreografado por bailarinos da companhia. Cada um tem uma busca e se inspirou em telas e aspectos diferentes de Portinari”, explica Possi. A ligação entre eles são os trechos da coreografia de Ana Teixeira que se alternam com as criações dos outros bailarinos. “Ela quis mostrar as mulheres fortes através de seus pés, suas mãos e costas marcantes nas telas. Os três quadros da coreógrafa são mais conceituais”, conta a diretora artística do Balé da Cidade de São Paulo, Mônica Mion, que dançou o espetáculo em 1998. Na cena sobre as mãos, os figurinos de Lino Villaventura permitem que somente as mãos dos dançarinos apareçam. O mesmo acontece com outras partes do corpo.
Da roça para o palco – Os pés dos bailarinos traduzem para a dança os pés da roça, dos espantalhos, dos retirantes, dos músicos, das crianças, dos brasileiros enfim retratados por Portinari, ele próprio “um caipira”, como se definia. Ao fundo do palco, as pinturas que influenciaram cada cena do espetáculo são projetadas com uma alteração – os personagens de Brodósqui foram retirados para que os dançarinos dessem vida a eles durante o balé. É assim que o sanfoneiro, o João Negrinho e os familiares de Portinari, retratados em Baile na roça, pulam para o palco e que os cenários das telas do pintor se transformam em cenários do espetáculo.
Um ícone bastante pintado por Portinari, ao qual ele se compara em um de seus depoimentos, é o espantalho. Essa importante figura da crendice popular, tema apreciado pelo pintor, recebe o único solo do espetáculo, quando um dançarino se movimenta pendurado por elásticos, utilizando técnicas circenses. Além de retratar a realidade na “roça”, a temática urbana das telas do pintor também serviu de inspiração, como conta Possi.

Representando retirantes oprimidos na cidade grande, uma bailarina dança dentro de uma espécie de aquário que se esvazia ao fim da cena, ao som de Deodeca, de Caetano Veloso e Jacques Morelembaum. A Orquestra Sinfônica Municipal, com regência do maestro Henrique Lian, interpreta as composições também assinadas por Egberto Gismonti, Sérgio Assada e Hermeto Paschoal, que encerra o balé com forrós, “os bailes da roça”, segundo Possi. Para o diretor, o espetáculo tem uma estética com valores e temáticas brasileiros, características que Portinari teve coragem de assumir em sua obra Baile na roça, desafiando os preceitos acadêmicos vigentes no País para retratar a identidade nacional.

A obra Baile na Roça, de Cândido Portinari, inspirou
a criação do espetáculo, para o Balé da Cidade de São Paulo













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