A relação entre Arte e público
A relação entre arte e público sempre me despertou curiosidade, por querer saber qual é o nível de profundidade na fruição de obras de arte. Mais especificamente, este interesse se volta à arte contemporânea, pois na minha condição de artista procuro fazer uma leitura de como esta relação se processa para o meu próprio entendimento, fruição ou qualquer outra experiência que uma obra de arte venha proporcionar.
Desse modo, os trabalhos que desenvolví foram produzidos com o intuito de refletir sobre um pensamento considerado não erudito, ou seja aquele que não é adquirido pelo viés acadêmico. Ainda assim, esse gosto não erudito se constrói por meio de diversas classes sociais em diferentes níveis culturais.
Outro aspecto relevante, da minha produção, é o de proporcionar uma visão da arte como forma de comunicação entre indivíduos. Destaco este aspecto, pois, a arte contemporânea parece estar fadada a um círculo muito restrito de iniciados pela academia. A pouca visitação dos espaços que abrigam este tipo de arte é um fato que parece ser superado apenas em mega eventos, com orçamentos milionários. No dia-a-dia, exposições menores, em sua grande maioria, com orçamentos curtos não têm muita visibilidade e não são vistas e apreciadas pelo grande público.
O embate cotidiano do público em geral com a arte não existe nem nos espaços públicos ou institucionais, nem nos espaços privados e nem nas tentativas, por parte dos artistas, de levar a arte para as ruas, onde teoricamente este embate deveria acontecer.
Essa relação, entre público e arte contemporânea, que num primeiro momento parece não ter profundidade, pois é desse modo que os próprios espectadores se referem ao seu grau de intimidade com a arte, é usada como matéria-prima na construção dos trabalhos aqui apresentados.
Luciano Mariussi
Link:
http://www.muvi.advant.com.br/artistas/l/luciano_mariussi/luciano_mariussi.htm
Entre gritando, obra de Luciano Mariussi apresentada no Panorama MAM de 2005, tem algo da histeria em torno da arte contemporânea. Histeria da incompreensão, bem entendido. A proposta do artista era a seguinte: quem gritasse “eu sei o que é arte contemporânea” ao pisar no Museu de Arte Moderna de São Paulo ganhava desconto de R$ 1 na entrada. A dificuldade de personificar o visitante idealizado por Mariussi era dupla: as pessoas em geral se constrangiam com a hipótese remota de entrarem gritando – fosse lá o que fosse – em um museu; e ainda tinham que se haver com a dúvida “por acaso eu sei o que é arte contemporânea?” Além de entrar gritando no museu, comportamento fora de qualquer padrão de conduta em espaços de arte, o desafio era bradar a plenos pulmões uma provável mentira. E se o desconto só fosse concedido mediante a enunciação de alguma definição de arte contemporânea?
Era muita coisa em jogo por R$ 1. Nas três ou quatro visitas que fiz ao Panorama, não presenciei nenhum corajoso gritador ganhando o desconto na bilheteria. Mas há relatos do museu, segundo me contou o artista, de algumas pessoas que se aventuraram, sobretudo crianças. A obra era, na realidade, uma cilada (conceitual, claro. Quem gritasse “eu sei o que é arte contemporânea” ganhava o desconto sem precisar dar satisfação a ninguém sobre seus conhecimentos a respeito de arte). Era um convite simpático a ganhar um desconto (quem não gosta de uma promoção?) que, contradição entre termos, coibia o visitante de pleitear o seu merecido desconto. O trabalho era paralisante, apesar de se anunciar como uma proposta de ação. Uma convocação a agir fadada ao fracasso. Essa estratégia algo perversa é característica da produção do artista paranaense. Tomem-se as obrasJogo para jogador inepto (1999) ou Unfriendly (2001) e a estratégia, com variações de aplicação, poderá ser novamente observada (e “fruída”).
Além do paradoxo, da crítica e do questionamento presentes em Entre gritando, o que mais me agrada na obra de Luciano Mariussi para o Panorama de 2005 é a própria presença física da obra: durante mais de três meses ficou estampado na fachada de um dos principais museus da cidade o imperativo afirmativo do verbo “entrar” seguido do gerúndio do verbo “gritar”. Neste anúncio em grandes dimensões (as outras informações, “...eu sei o que é arte contemporânea e ganhe 1 real de desconto na entrada do MAM”, apareciam em letras proporcionalmente “miúdas”), reside a maior subversão promovida pelo trabalho. Se fosse nos dias atuais, em tempos de operação-limpeza-visual do prefeito Kassab, o letreiro no MAM seria ainda mais subversivo. O fato é que a presença desse “entre gritando” gritado na fachada do museu dava vazão a muita livre associação de ideias. Além de cilada, a obra era uma charada: arte contemporânea é... embutir ruídos na vida cotidiana e colocar as pessoas para pensar ou devanear.(...)
Mediação Cultural
A ação do mediador cultural, nos territórios da mediação cultural, se refere a um trabalho de contaminar e provocar, na escola ou no museu, o público ingênuo, principiante, aprendiz ou especialista. Franz (2003) aponta que para o publico ingênuo não existe conhecimento prévio da arte, prevalecendo concepções intuitivas e místicas sem criar relações entre seu cotidiano e o que aprende na escola ou espaços culturais. O principiante, por sua vez, mistura suas crenças intuitivas com os conhecimentos adquiridos, e tem dificuldade de fazer conexões entre o que sabe e a obra de arte. O aprendiz possui algum conhecimento e ideias sobre arte e usa do seu conhecimento e intuição para ler a imagem. O público especialista possui um alto grau de conhecimento prévio sobre arte e a obra analisada e utiliza de seu conhecimento para construir, discutir e reconstruir seu conhecimento.
A ação mediadora, como nós a entendemos, pretende contaminar e provocar os diferentes públicos, tornando-o capaz de passar ao ato de executar a obra em si mesmo, como nos fala Pareyson (1989). Ação mediadora que convoca a atitude necessária à compreensão dos diversos elementos da cultura e da arte na contemporaneidade, passando pela estética do cotidiano, o design de objetos, móveis e embalagens, pela diversidade de narrativas, linguagens, pela multiplicidade de cores, matizes, tonalidades, traçados que hoje envolve a vida de todos. Trata-se de um saber transitar, articular e produzir pensamento sobre e através dos signos da cultura. É necessário, cada vez mais, um trabalho de mediação que ative as sensibilidades disseminadas na pele da vida.
A arte contemporânea é construída não mais necessariamente com o novo e o original, como ocorria no Modernismo e nos movimentos vanguardistas. Ela se caracteriza principalmente pela liberdade de atuação do artista, que não tem mais compromissos institucionais que o limitem, portanto pode exercer seu trabalho sem se preocupar em imprimir nas suas obras um determinado cunho religioso ou político.
Esta era da história da arte nasceu em meados do século XX e se estende até a atualidade, insinuando-se logo depois da Segunda Guerra Mundial. Este período traz consigo novos hábitos, diferentes concepções, a industrialização em massa, que imediatamente exerce profunda influência na pintura, nos movimentos literários, no universo ‘fashion’, na esfera cinematográfica, e nas demais vertentes artísticas. Esta tendência cultural com certeza emerge das vertiginosas transformações sociais ocorridas neste momento.
Os artistas passam a questionar a própria linguagem artística, a imagem em si, a qual subitamente dominou o dia-a-dia do mundo contemporâneo. Em uma atitude metalingüística, o criador se volta para a crítica de sua mesma obra e do material de que se vale para concebê-la, o arsenal imagético ao seu alcance.
Nos anos 60 a matéria gerada pelos novos artistas revela um caráter espacial, em plena era da viagem do Homem ao espaço, ao mesmo tempo em que abusa do vinil. Nos 70 a arte se diversifica, vários conceitos coexistem, entre eles a Op Art, que opta por uma arte geométrica; a Pop Art, inspirada nos ídolos desta época, na natureza celebrativa desta década – um de seus principais nomes é o do imortal Andy Warhol; o Expressionismo Abstrato; a Arte Conceitual; o Minimalismo; a Body Art; a Internet Street e a Art Street, a arte que se desenvolve nas ruas, influenciada pelo grafite e pelo movimento hip-hop. É na esteira das intensas transformações vigentes neste período que a arte contemporânea se consolida.
Ela realiza um mix de vários estilos, diversas escolas e técnicas. Não há uma mera contraposição entre a arte figurativa e a abstrata, pois dentro de cada uma destas categorias há inúmeras variantes. Enquanto alguns quadros se revelam rigidamente figurativos, outros a muito custo expressam as características do corpo de um homem, como a Marilyn Monroe concebida por Willem de Kooning, em 1954. No seio das obras abstratas também se encontram diferentes concepções, dos traços ativos de Jackson Pollock à geometrização das criações de Mondrian. Outra vertente artística opta pelo caos, como a associação aleatória de jornais, selos e outros materiais na obra Imagem como um centro luminoso, produzida por Kurt Schwitters, em 1919.
Os artistas nunca tiveram tanta liberdade criadora, tão variados recursos materiais em suas mãos. As possibilidades e os caminhos são múltiplos, as inquietações mais profundas, o que permite à Arte Contemporânea ampliar seu espectro de atuação, pois ela não trabalha apenas com objetos concretos, mas principalmente com conceitos e atitudes. Refletir sobre a arte é muito mais importante que a própria arte em si, que agora já não é o objetivo final, mas sim um instrumento para que se possa meditar sobre os novos conteúdos impressos no cotidiano pelas velozes transformações vivenciadas no mundo atual.
Fontes:
http://www.coladaweb.com/artes/artecom.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_contemporânea
Vídeo criado pela equipe do Itaú Cultural para abrir a exposição Trilhas do Desejo e aproximar o público da arte contemporânea. A exposição é um dos resultados do programa Rumos Artes Visuais 2008-2009, que busca identificar e promover obras e artistas contemporâneos de todo o Brasil.
Era muita coisa em jogo por R$ 1. Nas três ou quatro visitas que fiz ao Panorama, não presenciei nenhum corajoso gritador ganhando o desconto na bilheteria. Mas há relatos do museu, segundo me contou o artista, de algumas pessoas que se aventuraram, sobretudo crianças. A obra era, na realidade, uma cilada (conceitual, claro. Quem gritasse “eu sei o que é arte contemporânea” ganhava o desconto sem precisar dar satisfação a ninguém sobre seus conhecimentos a respeito de arte). Era um convite simpático a ganhar um desconto (quem não gosta de uma promoção?) que, contradição entre termos, coibia o visitante de pleitear o seu merecido desconto. O trabalho era paralisante, apesar de se anunciar como uma proposta de ação. Uma convocação a agir fadada ao fracasso. Essa estratégia algo perversa é característica da produção do artista paranaense. Tomem-se as obrasJogo para jogador inepto (1999) ou Unfriendly (2001) e a estratégia, com variações de aplicação, poderá ser novamente observada (e “fruída”).
Além do paradoxo, da crítica e do questionamento presentes em Entre gritando, o que mais me agrada na obra de Luciano Mariussi para o Panorama de 2005 é a própria presença física da obra: durante mais de três meses ficou estampado na fachada de um dos principais museus da cidade o imperativo afirmativo do verbo “entrar” seguido do gerúndio do verbo “gritar”. Neste anúncio em grandes dimensões (as outras informações, “...eu sei o que é arte contemporânea e ganhe 1 real de desconto na entrada do MAM”, apareciam em letras proporcionalmente “miúdas”), reside a maior subversão promovida pelo trabalho. Se fosse nos dias atuais, em tempos de operação-limpeza-visual do prefeito Kassab, o letreiro no MAM seria ainda mais subversivo. O fato é que a presença desse “entre gritando” gritado na fachada do museu dava vazão a muita livre associação de ideias. Além de cilada, a obra era uma charada: arte contemporânea é... embutir ruídos na vida cotidiana e colocar as pessoas para pensar ou devanear.(...)
Mediação Cultural
A ação do mediador cultural, nos territórios da mediação cultural, se refere a um trabalho de contaminar e provocar, na escola ou no museu, o público ingênuo, principiante, aprendiz ou especialista. Franz (2003) aponta que para o publico ingênuo não existe conhecimento prévio da arte, prevalecendo concepções intuitivas e místicas sem criar relações entre seu cotidiano e o que aprende na escola ou espaços culturais. O principiante, por sua vez, mistura suas crenças intuitivas com os conhecimentos adquiridos, e tem dificuldade de fazer conexões entre o que sabe e a obra de arte. O aprendiz possui algum conhecimento e ideias sobre arte e usa do seu conhecimento e intuição para ler a imagem. O público especialista possui um alto grau de conhecimento prévio sobre arte e a obra analisada e utiliza de seu conhecimento para construir, discutir e reconstruir seu conhecimento.
A ação mediadora, como nós a entendemos, pretende contaminar e provocar os diferentes públicos, tornando-o capaz de passar ao ato de executar a obra em si mesmo, como nos fala Pareyson (1989). Ação mediadora que convoca a atitude necessária à compreensão dos diversos elementos da cultura e da arte na contemporaneidade, passando pela estética do cotidiano, o design de objetos, móveis e embalagens, pela diversidade de narrativas, linguagens, pela multiplicidade de cores, matizes, tonalidades, traçados que hoje envolve a vida de todos. Trata-se de um saber transitar, articular e produzir pensamento sobre e através dos signos da cultura. É necessário, cada vez mais, um trabalho de mediação que ative as sensibilidades disseminadas na pele da vida.
O que é Arte Contemporânea
Esta era da história da arte nasceu em meados do século XX e se estende até a atualidade, insinuando-se logo depois da Segunda Guerra Mundial. Este período traz consigo novos hábitos, diferentes concepções, a industrialização em massa, que imediatamente exerce profunda influência na pintura, nos movimentos literários, no universo ‘fashion’, na esfera cinematográfica, e nas demais vertentes artísticas. Esta tendência cultural com certeza emerge das vertiginosas transformações sociais ocorridas neste momento.
Os artistas passam a questionar a própria linguagem artística, a imagem em si, a qual subitamente dominou o dia-a-dia do mundo contemporâneo. Em uma atitude metalingüística, o criador se volta para a crítica de sua mesma obra e do material de que se vale para concebê-la, o arsenal imagético ao seu alcance.
Nos anos 60 a matéria gerada pelos novos artistas revela um caráter espacial, em plena era da viagem do Homem ao espaço, ao mesmo tempo em que abusa do vinil. Nos 70 a arte se diversifica, vários conceitos coexistem, entre eles a Op Art, que opta por uma arte geométrica; a Pop Art, inspirada nos ídolos desta época, na natureza celebrativa desta década – um de seus principais nomes é o do imortal Andy Warhol; o Expressionismo Abstrato; a Arte Conceitual; o Minimalismo; a Body Art; a Internet Street e a Art Street, a arte que se desenvolve nas ruas, influenciada pelo grafite e pelo movimento hip-hop. É na esteira das intensas transformações vigentes neste período que a arte contemporânea se consolida.
Ela realiza um mix de vários estilos, diversas escolas e técnicas. Não há uma mera contraposição entre a arte figurativa e a abstrata, pois dentro de cada uma destas categorias há inúmeras variantes. Enquanto alguns quadros se revelam rigidamente figurativos, outros a muito custo expressam as características do corpo de um homem, como a Marilyn Monroe concebida por Willem de Kooning, em 1954. No seio das obras abstratas também se encontram diferentes concepções, dos traços ativos de Jackson Pollock à geometrização das criações de Mondrian. Outra vertente artística opta pelo caos, como a associação aleatória de jornais, selos e outros materiais na obra Imagem como um centro luminoso, produzida por Kurt Schwitters, em 1919.
Os artistas nunca tiveram tanta liberdade criadora, tão variados recursos materiais em suas mãos. As possibilidades e os caminhos são múltiplos, as inquietações mais profundas, o que permite à Arte Contemporânea ampliar seu espectro de atuação, pois ela não trabalha apenas com objetos concretos, mas principalmente com conceitos e atitudes. Refletir sobre a arte é muito mais importante que a própria arte em si, que agora já não é o objetivo final, mas sim um instrumento para que se possa meditar sobre os novos conteúdos impressos no cotidiano pelas velozes transformações vivenciadas no mundo atual.
Fontes:
http://www.coladaweb.com/artes/artecom.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_contemporânea
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