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domingo, 25 de outubro de 2015

ARTE E CORDEL

Literatura de Cordel



Literatura de Cordel é uma modalidade impressa de poesia, que já foi muito estigmatizada mas hoje em dia é bem aceita e respeitada, tendo, inclusive, uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Devido ao linguajar despreocupado, regionalizado e informal utilizado para a composição dos textos essa modalidade de literatura nem sempre foi respeitada, e já houve até quem declarasse a morte do cordel, mas ainda não foi dessa vez.

A cada dia os textos são mais valorizados por todo o Brasil e pelo mundo. Os textos são publicados em livretos fabricados praticamente de forma manual pelo próprio autor. Eles têm geralmente 8 páginas mas podem ter mais, variando entre 8 e 32. As páginas medem 11x16cm e são comercializadas pelos próprios autores. Há alguns livros publicados, mas no geral a venda acontece dessa maneira. Leandro Gomes de Barros e João Martins de Atahyde são dois dentre os primeiros poetas; e estes já possuem livretos publicados por editoras, sendo vendidos e reeditados constantemente. Não há como contar a quantidade de exemplares, pois a cada tiragem milhares de exemplares são vendidos.

Assim como muitos itens dos que compõem a nossa cultura, a literatura de cordel tem influência Portuguesa. Os autores das poesias se denominam trovadores e geralmente quando as declamam são acompanhados por uma viola, que eles mesmos tocam.

Este tipo de literatura marcou também a cultura francesa, espanhola e portuguesa, através dos trovadores. Estes eram artistas populares que compunham e apresentavam poesias acompanhadas de viola e muitas vezes com melodia. Se apresentavam para o povo e falavam da cultura popular da localidade, dos acontecimentos mais falados nas redondezas, de amor, etc. Assim como no trovadorismo, movimento literário que abriga essa prática, hoje é a literatura de cordel. Até mesmo as competições entre dois trovadores, com suas violas, é presenciada hoje por nós e já foi muito praticada nos três países citados, especialmente em Portugal.

No Brasil prevalece a produção poética, mas em outros locais nota-se a forte presença da prosa. A forma mais freqüentemente utilizada é a redondilha maior, ou seja, o verso de sete sílabas poéticas. A estrofe mais comum é a de seis versos, chamada sextilha. E o esquema de rimas mais comum é ABCBDB.

Os temas são os mais variados, indo desde narrativas tradicionais transmitidas pelo povo oralmente até aventuras, histórias de amor, humor, ficção, e o folheto de caráter jornalístico, que conta um fato isolado, muitas vezes um boato, modificando-o para torná-lo divertido. Ao mesmo tempo que falam de temas religiosos, também falam de temas profanos. Escrevem de maneira jocosa, mas por vezes retratam realidades desesperadoras. Uma outra característica é o uso de recursos textuais como o exagero, os mitos, as lendas, e atualmente o uso de ironia ou sarcasmo para fazer críticas sociais ou políticas. Usar uma imagem estereotipada como personagem também é muito comum, às vezes criticando a exclusão social e o preconceito, às vezes fazendo uso dos mesmos através do humor sarcástico. Além dos temas “engajados”, se assim podemos chamá-los, há também cordéis que falam de amor, relacionamentos pessoais, profissionais, cotidiano, personalidades públicas, empresas, cidades, regiões, etc.

Uma das características desse tipo de produção é a manifestação da opinião do autor a respeito de algo dentro da sua sociedade. Os cordéis não tem a característica de serem impessoais ou imparciais, pelo contrário, na maioria das vezes usam várias técnicas de persuasão e convencimento para que o leitor acate a ideia proposta.





Ai! Se sêsse!...
Autor: Zé da Luz

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

FIM

Para ler e conhecer mais sobre os Cordéis, visite: www.ablc.com.br


Mais links:


http://www.estudopratico.com.br/literatura-de-cordel/

http://cordeldobrasil.com.br/v1/

http://www.suapesquisa.com/cordel/

As gravuras na Literatura de Cordel




  • Xilogravura


O dicionário Larousse, Ática, define xilogravura da seguinte forma: “gravura obtida pelo processo da xilografia”. Xilografia quer dizer “arte de gravar em madeira. Técnica de impressão em que o desenho é entalhado com goiva, formão, faca ou buril em uma chapa de madeira”.


História da Xilogravura

As prováveis origens da xilogravura remetem à cultura oriental. Segundo historiadores, a xilogravura foi criada pelos chineses e já era praticada por este povo desde o século 6. Durante a Idade Média, a xilogravura firma-se no ocidente, ganhando inovações durante o século 18. Com sua difusão por diversos países, acabou chegando às nações européias, onde influenciaram as artes do século 19 e ajudaram Thomas Bewick a criar a técnica da gravura de topo, diminuindo os custos de produção industrial de livros ilustrados e inciando a produção em larga escala de imagens pictóricas.

Porém, com o avanço tecnológico do século 20, a técnica da xilogravura começa a cair em desuso. Com a invenção de processos de impressão a partir da fotografia, a técnica oriental foi considerada obsoleta, passando a ser utilizada somente por artistas e artesões.


Técnica e funcionalidade

Pode-se descrever a xilogravura como uma espécie de carimbo. Em seu processo, uma gravura é entalhada na madeira com auxílio de objeto cortante e, na sequência, utiliza-se um rolo de borracha embebida em tinta, que penetra somente nas partes onde está a gravura (entalhe). Então, a parte em que fica a gravura é colocada em contato com a superfície a ser ilustrada. Após alguns minutos, retira-se a madeira, que deixa a imagem impregnada no local. Esta técnica é também chamada de impressão em alto relevo e pode ser feita à base de linóleo (linoleogravura) ou qualquer superfície plana.


Xilogravura aplicada no Brasil

O contato entre diversas culturas, como a brasileira e a portuguesa, ocasionou o surgimento da xilogravura popular brasileira. Os portugueses já utilizavam a técnica que, quando trazida para o Brasil, desenvolveu-se na Literatura de Cordel. Com isso, diversas obras foram produzidas com a utilização da xilogravura, formando diversos xilógrafos, principalmente na Região Nordeste do país. Gilvan Samico, Abraão Batista, Amaro Francisco, José Costa Leite, José Lourenço e J. Borges estão entre os principais xilógrafos brasileiros.
A gravura em isopor é usada como um recurso artístico e didático que reconstrói o processo da xilogravura, gravura em relevo, feita em madeira.Ela apresenta especificidades que favorecem o manuseio, apresentando, de uma forma geral, menos rigidez que a madeira. O isopor, mais poroso e macio, não exige as goivas ou estiletes usados para cortar a fibra da madeira, mas pelo contrário: pode ser gravado com praticamente toda sorte de objetos, desde lápis, uma ponta seca, a tampinhas, pregos etc.

MATERIAL:
  • bandejas de isopor (daquelas para frios, por exemplo)
  • tinta guache preta, azul, verde, etc. Uma cor escura é melhor para que se possa visualizar o entalhe do isopor.
  • pincéis ou rolinhos de pintura
  • jornais para forrar as mesas
  • folhas de sulfite (cortadas nas medidas do livrinho de cordel)
  • folhas para rascunho ou criação dos estudos
  • lápis preto
  • palitos de madeira (de churrasco ou outro qualquer)
Obs.: O correto, antes de partir para a gravura em isopor, é criar o estudo que se pretende "entalhar" primeiro em sulfite, na medida padrão para a capa do cordel.

Entalhe com palito

Pintura do entalhe utilizando rolinho

Impressão

Impressão

Exemplos de impressões diversas







quarta-feira, 21 de outubro de 2015

INSTRUMENTOS MUSICAIS



A classificação dos instrumentos musicais


Os instrumentos se agrupam com características comuns, segundo sua constituição, som e a forma como produzem o som.


Atualmente os instrumentos são classificados como instrumento de corda, instrumento de sopro e instrumento de percussão.
Muitos instrumentos musicais estão presentes em nossa cultura, são eles os Idiofones, Membranofones, Aerofones, Cordofones e Eletrofones.
Os Idiofones são conhecidos como instrumentos de percussão como, por exemplo, triângulo, as castanholas, os blocos de madeira, o sino, ganzá ou guizo, as clavas, o coco e o chocalho. Alguns deles são afinados precisamente como os Xilofones e Metalofones, com altura indeterminada, o que significa que não são afinados segundo uma escala ou modo, maior ou menor. Esses instrumentos não produzem tom, afinação definida, eles produzem ruídos e o próprio corpo do instrumento é responsável pela produção do som.


Os Membranofones estão presentes em nossa música brasileira, são eles, tambores, bongôs, pandeiros, surdos, tamborins etc. O som é produzido por uma membrana ou pele esticada sobre uma caixa, podendo ser mais esticada para obter um som mais agudo e mais solta o som mais grave. Quanto menor o tambor mais agudo será o som, o motivo é que a área da vibração do som é menor.


Os Aerofones são os instrumentos de sopro de todas as espécies, seu formato tubular que produz som quando o ar é soprado para dentro dele. São divididos em dois grupos: as madeiras, que incluem a flauta, o oboé e a clarineta; e os metais como trompete, trombone, trompa e a tuba.


Os Cordofones são os instrumentos conhecidos por ter uma ou mais cordas esticadas entre dois pontos fixos, entre eles estão o violino, o violoncelo, a harpa, o violão entre outros. As afinações desses instrumentos dependem do seu cumprimento e de sua espessura e sua tensão, uma corda longa, grossa e frouxa terá o som mais grave, uma corda curta e fina o som mais agudo, os cordofones são originalmente conhecidos como instrumentos de cordas.





E os Eletrofones que produzem som eletricamente como por exemplo o sintetizador que pode ser tocado com um piano e um painel de controle acima do teclado e transforma o som produzido. Eles são usados como uma memória de computador que podem tocar um playback de sons programados, muitos músicos utilizam para acompanhar e fazer seus improvisos.



sábado, 1 de agosto de 2015

IDENTIDADE CULTURAL 2

2 - Arte dos povos africanos




O Brasil tem a maior população de origem africana fora da África e, por isso, a cultura desse continente exerce grande influência, principalmente, na região Nordeste do Brasil.



Origem dos Escravos Africanos

Por Antonio Gasparetto Junior

Inicialmente, os portugueses ocuparam o litoral oeste docontinente africano guiados pela esperança de encontrar ouro. O relacionamento com a população nativa era razoavelmente pacífica, tanto que os europeus chegavam a casar com mulheres africanas. Mas registros apontam que por volta de 1470 o comércio de escravos oriundos da África tinha se tornado o maior produto de exploração vindo do continente.

No século XV Portugal e algumas outras regiões da Europa eram os principais destinos para a mão de obra escrava apreendida no continente africano. Foi a colonização no Novo Mundo que mudou a rota do mercado consumidor de escravos e fez com que o comércio fosse praticado em grande escala.



Os escravos capturados na África eram provenientes de várias situações:
  • poderiam ser prisioneiros de guerra;
  • punição para indivíduos condenados por roubo, assassinato, feitiçaria ou adultério;
  • indivíduos penhorados como garantia de pagamento de dívidas;
  • raptos em pequenas vilas ou mesmo troca de um membro da comunidade por alimentos;

A maior parte dos escravos vindos da África Centro-Ocidental era fornecida por chefes políticos ou mercadores, os portugueses trocavam algum produto pelos negros capturados.

A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos ebantus. Cada um desses grupos representava determinada região do continente e tinha um destino característico no desenrolar do comércio.

Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e fanti-ashantis. Esse grupo tinha origem do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro e seu destino geralmente era a Bahia. Já os bantus, grupo mais numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A origem desse grupo estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique (correspondestes ao centro-sul do continente africano) e rinha como destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. Esse grupo tinha a mesma origem e destino dos sudaneses, a diferença estava no fato de serem convertidos ao islamismo.




Desde os primeiros registros de compras de escravos feitos em terras brasileiras até a extinção do tráfico negreiro, em 1850, calcula-se que tenham entrado no Brasil algo em torno de quatro milhões de escravos africanos. Mas como o comércio no Atlântico não se restringia ao Brasil, a estimativa é que o comércio de escravos por essa via tenha movimentado cerca de 11,5 milhões de indivíduos vendidos como mercadorias.



...


Hoje, a cultura afro-brasileira é resultado também das influências dos portugueses e indígenas, que se manifestam na música, religião e culinária.







 Devido à quantidade de escravos recebidos e também pela migração interna destes, os estados de Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados.

Fotos raras de escravos africanos no Brasil:
http://www.historiailustrada.com.br/2014/04/raras-fotografias-escravos-brasileiros.html

No início do século XIX, as manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos, pois não faziam parte do universo cultural europeu e não representavam sua prosperidade. Eram vistas como retrato de uma cultura atrasada.


Bate-Folha da Bahia (origem 1881)

Candomblé
Mas, a partir do século XX, começaram a ser aceitos e celebrados como expressões artísticas genuinamente nacionais e hoje fazem parte do calendário nacional com muitas influências no dia a dia de todos os brasileiros.

Em 2003, a lei nº 10.639 passou a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluíssem no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira.


Arte e religião

As civilizações africanas tem uma visão holística e simbólica da vida. Cada indivíduo é parte de um todo, ligados, todos em função do cosmos em uma eterna busca pela harmonia e de equilíbrio. Outro conceito fundamental na filosofia da existência africana é a importância do grupo, para que a comunidade viva, cada fiel deve participar seguindo o papel que lhe pertence em nível espiritual e terreno.





  • Principais religiões

As únicas religiões que tem relação com a arte africana no Brasil, são o Candomblé, e o Culto aos Egungun efetivamente de origem africana.

Egungun

Culto de Ifá


O Culto de Ifá em menor número no Brasil é o maior responsável pela divulgação da Yoruba Art em todo mundo, Estados Unidos, Cuba, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, são os países onde o maior número de peças podem ser encontradas, em museus e coleções particulares.


Ifá é o nome de um Oráculo africano. É um sistema de adivinhação que se originou na África Ocidental entre os Yorubas, na Nigéria. É também designado por Fa entre os Fon e Afa entre os Ewe. Não é propriamente uma divindade (Orixá), é o porta-voz de Orunmilá e dos outros Orixás.



O sistema pertence as religiões tradicionais africanas mas também é praticado entre os adeptos da Lukumí de Cuba através da Regla de Ocha, Candomblé no Brasil através do Culto de Ifá, e similares transplantadas para o Novo Mundo.


Os iorubás configuram uma das mais significativas culturas da história do continente africano; eles estão localizados na região sudoeste da Nigéria e no sul do Benin, onde se concentra uma minoria. Afirmam os historiadores que os domínios iorubás se desenvolveram ao longo da margem sul do rio Níger.

Este povo encontra sua procedência primitiva em um núcleo aborígene ancestral, posicionado em torno da cidade de Ifé, antes de ser subjugado pelo guerreiro Oduduwa, considerado o criador desta civilização, e por seus seguidores. Seus descendentes estruturaram as distintas dinastias que se fixaram neste espaço geográfico entre os anos 600 e 900; supõe-se que eles eram originários do Alto Nilo.

Vários estudiosos crêem que o povo iorubá tem prováveis laços com a cultura do Egito, enquanto outros defendem que ele está mais intimamente ligado ao legado da Núbia; estes pesquisadores também investigam a possibilidade das crenças iorubás serem herdeiras das concepções helenistas. Até hoje nenhuma especulação foi comprovada.

Os povos africanos se apóiam integralmente no poder da oralidade, a qual, no caso das tradições iorubás, se mantém ao longo dos séculos no interior dos Poemas Sagrados de Ifá, de onde este povo extrai a base fundamental para preservar seu legado, mesmo distante do lar, nas Américas, especialmente no Brasil e em Cuba.

A palavra oral tem um peso sagrado, pois traz em si o mistério do culto àquilo que se encontra em uma dimensão invisível ao olhar humano. Mais que isso, ela é o tecido estrutural que molda cada esfera da vivência dos povos africanos, particularmente a dos iorubás. É ela que permite a uma geração transmitir sua herança ancestral à que lhe sucede, preservando assim sua cultura original.

O caráter consagrado da palavra lhe confere o dom de criar cenários, pois ela abriga um universo mítico. Seus mestres têm a responsabilidade de estabelecer vínculos de conexão entre as entidades divinas, os ancestrais e os futuros iorubás, disponibilizando o legado cultural desta civilização.

Os Versos Sagrados de Ifá constituem o meio essencial para se entender o Cosmos, a cultura, a religiosidade, a educação, a poética, a dança, o legado musical, a estrutura político-social, as interações sociais, a configuração do perímetro urbano, o meio-ambiente, a relação com os ancestrais e a ciência praticada pelos iorubás.

Dentre os elementos presentes nesta obra-prima da oralidade iorubá estão os Oriki – evocações; os Orin – cantos; os Orin-Esa – cantigas em louvor aos ancestrais masculinas; os Orin-Efe – canções dirigidas às ancestrais femininas; as Aduras – orações; os Ibás – saudações. Nos poemas maiores, os Iremoje e os Ijala, estão preservados os elementos mais significativos da trajetória mitológica deste povo.

O cosmo iorubá é arquitetado em uma estrutura quádrupla, daí os sacerdotes serem também enquadrados em categorias que correspondem a esta visão de mundo. Os babalaôs dirigem o culto a Ifá, na dimensão da interação humana; os babalorixás e ialorixás – pais e mães que presidem as iniciações no orixá – lideram a adoração a estas divindades; os babalossaim – símbolos da paternidade – são os responsáveis pelo culto a Ossaim, a esfera das folhas, representantes da Natureza; e os babalojés/ babaojés – que protagonizam os pais na veneração aos ancestrais da linhagem masculina – comandam a adoração aos mortos.

Nas terras americanas os iorubás procuram reproduzir esta representação espacial geográfica e cosmológica. Cada esfera do recinto sagrado na América reflete a mesma teia sagrada que marca o universo iorubá no continente africano. O Ifá atua como o protetor do saber sagrado, um depósito palpitante das memórias desta civilização.


Os orixás estão presentes no cotidiano dos fiéis, no trabalho e nos fatos mais corriqueiros da vida. Simbolicamente, a morada e regência de cada orixá é um elemento e uma qualidade, um valor, e cada expressão da natureza é compreendida como um sinal mágico. Para os iorubás a natureza oferece os indicadores abençoados pelos orixás. Cada orixá tem sua cor, égide, pedra, dia da semana, dança, canto, saudação, animal consagrado, comida, objetos de oferenda, filiação, função e lugar de poder.
http://mitologiacomentada.blogspot.com.br/p/ioruba.html


Conheça a história e saiba os significados das máscaras africanas

TEXTO: Priscila Gorzoni | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira


Máscara tem origem no latim mascus ou masca = “fantasma”, ou no árabe maskharah = “palhaço”, “homem disfarçado”.

Principais funções de uma máscara são: disfarce, símbolo de identificação, esconder revelando, transfiguração, representação de espíritos da natureza, deuses, antepassados, seres sobrenaturais ou rosto de animais, participação em rituais (muitas vezes presente, porém sem utilização prática), interação com dança ou movimento, fundamental nas religiões animistas e mero adereço.

Uma das sociedades que mais se expressam simbolicamente através de suas expressões artísticas e tornou-se conhecida através de suas máscaras são as etnias africanas. Dentro da África encontram-se várias sociedades, onde cada uma possui traços específicos e particulares respeitando seu contexto cultural.





Dentro da arte africana, as esculturas são as expressões de maior destaque e mais conhecidas universalmente. Diferente da concepção artística ocidental, a arte africana possui um teor e um sentido mágico religioso.






Para os africanos, as esculturas são objetos rituais, comunicação com os deuses e uma maneira de se mostrar e distinguir-se das demais comunidades.

O continente africano é enorme e habitado por várias etnias, por isso apresenta diferenças culturais, estéticas e religiosas de uma região para outra. Conseqüentemente, a máscara africana não tem traços homogêneos, cada comunidade possui seu próprio estilo artístico.


Variedade de objetos do cotidiano na arte africana

A maioria das máscaras é feita em madeira, afinal para os africanos a árvore é guardiã de poderes mágicos. O artista parte de um tronco cílindrico e vai afinando com o auxilio de suas ferramentas. A madeira escolhida deve ser verde e para que não rache, ele a carboniza jogando óleos de palmeira.

Além da madeira, outros materiais podem ser usados nas esculturas, como pedra, marfim, ouro, cobre e bronze.

Não é qualquer um que pode esculpir máscaras em uma sociedade africana. O artista não é um ser individual, pois através de suas mãos a coletividade fala. Cabe a ele o papel de interpretar os valores de todos e concretizar em sua obra.



Reprodução de máscara africana | FOTO: Divulgação

Na maioria dos casos, o escultor pertence a uma família ou casta de artistas. Inclusive será ali que ele irá aprender o uso e os instrumentos para a atividade artística. No entanto, pode acontecer de algum jovem da aldeia se interessar pela arte, mesmo sem ser da família de artistas. Neste caso, ele começará como aprendiz, copiando os modelos do mestre para depois criar os seus próprios, sempre obedecendo ao estilo vigente.Totalmente oposto a nossa a visão ocidental do artista, o escultor africano embora tenha uma posição de respeito e poder, deve ficar incógnito e passar por um processo de abstinência e purificação antes de iniciar a escultura. Pois confeccionar uma máscara é um ato sagrado, e quem o faz deve estar livre de todas as impurezas. Não importa quem é o artista, mas a mensagem social de que é portador.

A posição do escultor dentro de cada comunidade poderá variar, em algumas ele é visto antes do agricultor, em outras é inferior. Em alguns reinados, o artista torna-se um instrumento de ostentação do rei. Neste caso ele irá fazer obras onerosas para mostrar como aquele
rei é rico.

As várias estéticas da arte africana

Cada região da África tem seu estilo artístico e materiais diferenciados. Isso varia pelas diversas influências e Culturas que o continente sofreu durante a sua história. As mais antigas esculturas africanas foram encontradas no Norte da Nigéria, em uma mina nos arredores de Jos, a Cultura Nok (cabeças humanas de dois metros de altura em formato cilíndrico, com enfeites nas orelhas, lábios e pupilas feitas em terracota).




Apreciar uma escultura africana de qualquer uma destas sociedades é ler a história, ouvir a voz de uma coletividade ou antepassado da população. A própria peça fala por si, é um objeto de testemunho.
Máscara Gèlédé


Máscara Gèlédé
Máscara Mfondo, séc, XIX
Cultura Lwalu, Angola.
República Democrática do Congo



Máscara Mwana Pwo, séc. XIX-XX
Cultura Chokwe, Angola e República
Democrática do Congo



















Dança Africana

Na dança africana, cada parte do corpo movimenta-se com um ritmo diferente. Os pés seguem a base musical, acompanhados pelos braços que equilibram o balanço dos pés. O corpo pode ser comparado a uma orquestra que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia.






Outra característica fundamental é o policentrismo que indica a existência no corpo e na música de vários centros energéticos, assim como acontece no cosmo. A dança africana é um texto formado por várias camadas de sentidos. Esta dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimir através e para todos os sentidos. No momento que a sacerdotisa dança para Oxum, ela está criando a água doce não só através do movimento, mas através de todo o aparelho sensorial. A memória é o aspeto antológico da estética africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e do antigo equilíbrio da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação entre o mundo dos seres humanos e os dos deuses.

A repetição do padrão-musical manifesta a energia que os fieis estão invocando. A repetição dos movimentos produz o efeito de transe que leva ao encontro com a divindade, muito usado em rituais. O mesmo ato ou gesto é praticado num número infinito de vezes, para dar à ação um caráter de atemporalidade, de continuação e de criação continua. Nas danças africanas o contato contínuo dos pés nus com a terra é fundamental para absorver as energias que deste lugar se propagam e para enfatizar a vida que tem que ser vivida agora e neste lugar, ao contrario das danças ocidentais performadas sobre as pontas a testemunhar a vontade de deixar este mundo para alcançar um outro. Existem várias danças. Entre elas destacam-se: lundu, batuque, Ijexá, capoeira, coco, congadas e jongo.

Lundu

Batuque

Ijexá


Capoeira

Coco

Congada

Jongo










Influências africanas na cultura mundial

A Cultura africana se confunde com a cultura brasileira em diversos aspectos, desde palavras já incorporadas à nossa língua há muito tempo, como na gastronomia do país inteiro. Também tem sua influência na moda, no artesanato, na dança, na religião, instrumentos musicais e em praticamente todos os nossos costumes, principalmente na música, em que o Samba e outros ritmos são ícones do Brasil.




Picasso e a África
O Cubismo foi um dos principais, se não um dos mais comentados, estilos do Modernismo, das chamadas Vanguardas. Mas o que a “Arte Africana” tem a ver com isso?

Pablo Picasso (1881-1973), um dos precursores do Cubismo começou a desenvolver o estilo a partir de visitas a uma exposição de Arte Africana, no Museu do Homem de Paris, em 1905.

O trabalho exposto causou uma forte impressão no artista, especialmente as máscaras, o que fez com que ele procurasse retratá-las em suas pinturas. As máscaras, carregadas de significados sagrados, mas também pela simplificação das formas, tornaram-se referência para alguns artistas do Modernismo, em especial para Picasso, que, influenciado por elas, inaugurou uma nova fase da sua obra, o que alguns estudiosos denominam como protocubismo, um antecedente do cubismo, como podemos perceber nas imagens a seguir.

Abaixo, uma máscara da cultura Fang, observamos a ideia de simplificação das formas, ou seja, quais elementos são necessários para a confecção de um rosto. Essa ideia foi muito importante no cubismo. Logo a seguir, na tela Les Demoiselle d'Avignon, de Picasso, percebemos, nas duas figuras da direita a semelhança com as máscaras. Também, é possível notar que nas cores do quadro há a predominância de tons terrosos, outra forte referência às cores das máscaras africanas.

Máscara Fang

Les Demoiselles d'Avignon - Pablo Picasso (1907)






Outras obras de Picasso: